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“Mais de 60% das transações imobiliárias são uma consequência de alterações da estrutura familiar”

Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal, diz ao idealista/news "que não é expectável” que os preços das casas desçam em 2021.
25 jun 2021 min de leitura

Que ilações há a retirar da pandemia da Covid-19 para o setor da mediação imobiliária? Esta foi uma das questões que colocámos a Ricardo Sousa, CEO da Century 21 (C21) Portugal, autora do estudo “Impacto da Covid-19 nos critérios da habitação em Portugal”. “Mais de 60% das transações imobiliárias são uma consequência de alterações da estrutura familiar, como o casamento, divórcio, heranças ou a emancipação dos filhos. Por este motivo, muitos tiveram a necessidade urgente de troca de habitação, ou acesso à primeira casa, durante os confinamentos”, diz, em entrevista ao idealista/news, considerando “que não é expectável” que os preços das casas desçam em 2021.

Segundo Ricardo Sousa, “a pandemia obrigou os portugueses a repensarem a forma como habitam e o que valorizam nas suas casas, o que gerou novas necessidades na habitação”. Sobre a tão falada dinamização do mercado de arrendamento, diz que é preciso “gerar um choque em termos de oferta para criar mais soluções habitacionais, com opções mais ajustadas às necessidades e poder de compra das pessoas que querem e precisam de arrendar casa”. 

Impacto da pandemia no imobiliário residencial
Imagem de Please Don't sell My Artwork AS IS por Pixabay

O estudo conclui que quase nove em cada 10 famílias preferem ser proprietárias de uma casa (só 11% dos inquiridos optam por habitação arrendada). A pandemia está a contribuir ainda mais para o aumento da cultura de se ser proprietário em Portugal? Porquê?

Este reforço da cultura de proprietário é uma consequência da nova perspetiva que se ganhou da casa, após os confinamentos. A pandemia obrigou os portugueses a repensarem a forma como habitam e o que valorizam nas suas casas, o que gerou novas necessidades na habitação. 

Os portugueses são muito conservadores na aplicação das suas poupanças e nas suas decisões de investimento, e consideram o imobiliário uma opção para constituir poupança e gerar património. Segundo o estudo, as principais motivações para a preferência por casa em propriedade, indicada por 59% dos inquiridos, é porque constitui um investimento de futuro e 21% assumem que é um património que podem deixar aos filhos.

"A pandemia obrigou os portugueses a repensarem a forma como habitam e o que valorizam nas suas casas, o que gerou novas necessidades na habitação"

Para quando a tão falada/prometida dinamização do mercado de arrendamento? O que pode ser feito para aumentar/estimular o interesse pelo mercado de arrendamento?

Acredito que é necessário gerar um choque em termos de oferta para criar mais soluções habitacionais de arrendamento, com opções mais ajustadas às necessidades e poder de compra das pessoas que querem e precisam de arrendar casa. Neste momento há procura e há interesse, por parte de promotores imobiliários e de investidores, em apostar em soluções ‘Built to Rent’. Contudo, é necessário assegurar estabilidade legal e fiscal, bem como medidas de combate urgente à informalidade do mercado de arrendamento nacional, para se conseguir ter um mercado estruturado, transparente e para que se ganhe escala na oferta de arrendamento.

O estudo conclui que 65% dos inquiridos identificaram novas necessidades relativamente à sua habitação durante o confinamento e que após o confinamento 45% dos portugueses assumem que gostariam de mudar de casa. Que entraves encontram essas pessoas na hora de comprar casa? Os preços continuam a estar demasiado altos? Tenderão a descer nos próximos tempos?

O rendimento médio dos portugueses é muito baixo, situação que é particularmente evidente na Área Metropolitana de Lisboa, Área Metropolitana do Porto e no Algarve onde as taxas de esforço para adquirir ou arrendar uma casa estão bastante acima das médias nacionais. Neste enquadramento, o estudo conclui que entre os 45% dos portugueses que querem mudar de casa, 29% não o fazem porque não têm capacidade financeira. Verificamos que apenas 12% da amostra tem capacidade ou vontade para pagar mais de 600 euros por mês de hipoteca ou de renda de casa. 

A conjuntura atual é caraterizada por uma procura bastante dinâmica na compra/arrendamento, baixas taxas de juro e uma oferta muito limitada, pelo que não é expectável uma descida de preços em 2021.

"A conjuntura atual é caraterizada por uma procura bastante dinâmica na compra/arrendamento, baixas taxas de juro e uma oferta muito limitada, pelo que não é expectável uma descida de preços em 2021"

Há de facto uma tendência de procurar casa ou de mudar de casa para zonas menos centrais/para zonas mais afastadas dos centros urbanos, ou tratou-se de uma tendência mais passageira verificada em tempos de confinamento? Porquê?

As nossas transações de 2020 e do primeiro quadrimestre de 2021 revelam que não houve alterações significativas no perfil dos compradores ou inquilinos, nem nos imóveis selecionados. Ou seja, regista-se um ‘gap’ entre o aspiracional – a casa que realmente gostariam de ter – e a casa que efetivamente compram. Contudo, verificamos que, sobretudo na AML, há concelhos que estão a captar população, os concelhos com preços mais baixos, melhores infraestruturas de mobilidade e de transportes públicos – metro, comboio, barco, entre outros – estão com uma maior dinâmica de transações e de subidas de preços, o que reflete o movimento de deslocalização da população para fora de Lisboa e de outros concelhos, com preços mais altos.

Os bancos continuam a abrir a torneira do crédito à habitação, o que é bom para o negócio da mediação imobiliária. Seria de esperar que tivesse havido um abrandamento na concessão de crédito à habitação em tempos de pandemia? Porquê?

O acesso ao crédito à habitação segue, hoje, regras de taxas de esforço e LTV muito conservadoras e saudáveis. Neste contexto, o acesso ao crédito à habitação é um fator positivo para que as famílias possam aceder a soluções de habitação dignas e ajustadas às suas necessidades. 

"A mediação imobiliária foi determinante para que muitas famílias acedessem a uma habitação, neste período. Mais de 60% das transações imobiliárias são uma consequência de alterações da estrutura familiar como o casamento, divórcio, heranças ou a emancipação dos filhos"

Que ilações (positivas e negativas) há a retirar da pandemia para o setor da mediação imobiliária?

A mediação imobiliária foi determinante para que muitas famílias acedessem a uma habitação, neste período. Mais de 60% das transações imobiliárias são uma consequência de alterações da estrutura familiar como o casamento, divórcio, heranças ou a emancipação dos filhos. Por este motivo, muitos tiveram a necessidade urgente de troca de habitação, ou acesso à primeira casa, durante os confinamentos. 

A mediação imobiliária revelou uma capacidade de adaptação extraordinária às medidas de higiene e segurança implementadas, em termos de saúde pública, bem como na adoção de novos modelos de trabalho, numa lógica muito mais digital, mantendo sempre o seu lado humano para apoiar os clientes em todo o processo da transação imobiliária.

O risco de haver uma bolha imobiliária em Portugal está afastado a curto/médio prazo? Essa é uma situação que o preocupa? Porquê?

Há de facto um grande otimismo no mercado imobiliário residencial, contudo estamos a viver um momento sem precedentes, estamos em plena pandemia e é muito difícil compreender o real alcance e consequências na sociedade e na economia. Mas um cenário de bolha imobiliária, numa perspetiva macro no território nacional, pode ser afastado, porque não há um excesso de endividamento dos portugueses no crédito à habitação. Os critérios para a atribuição de financiamento bancário à habitação são muito mais restritos que no passado, não existe excesso de oferta no mercado (pelo contrário) e regista-se uma clara necessidade de soluções habitacionais. 

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